Semente de Jequitibá e a tradição Karajá
- Fernando Couto de Magalhães

- 29 de jun. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 21 de jun. de 2023

O desenho ao lado foi feito em papel Canson A3 com lápis Faber Castell 4B e 8B. Nele, eu retratei um indígena Karajá, ou Carajá, seguindo a referência de foto tirada em 1948 pelo meu tio-bisavô Agenor Couto de Magalhães em expedição etnográfica à Amazônia. Na imagem vemos o homem com um objeto na boca e distintas marcas culturais em sua pele. A relação entre objeto e indivíduo é muito forte e merece a devida atenção. O objeto é um cachimbo, feito com uma semente de Jequitibá, árvores de grande porte que podem alcançar até 40 metros de altura.
As marcas no rosto do indígena também são feitas com a semente, que aquecida a boca com carvão, gera uma cicatriz por queimadura nas bochechas dos homens e mulheres da tribo no formato de círculos paralelos - odemaluli.
Os cabelos também tem significativos culturais que precedem a cicatriz. Quando alcançam a idade de 8 a 10 anos, o cabelo é recortado na forma de uma coroa circular e de comprimento uniforme - chamado de Indjulá. Desse momento em diante, os rapazes deixam o cabelos crescer até alcançar os olhos na frente, e atrás, até alcançar os ombros. É então que os meninos são declarados adultos e recebem a tatuagem característica da tribo. As marcas da semente de Jequitibá.
"Para marcar assim o rosto de cada membro da tribo, de ambos os sexos, os pais aguardam que atinjam a puberdade, quando chamam então um adulto hábil e prático em realizar essas incisões. Usa-se o cachimbo vegetal (walioná, walikokó), do fruto do jequitibá, cuja boca está impregnada de carvão, servindo assim perfeitamente para assinalar os círculos. Feito isso, o operador emprega um estilete de ossso, lascas de pedra (manadjú, dente de pedra), fragmento de concha ou vidro, para dilacerar a carne, que é depois impregnada com o suco do jenipapo ainda verde. Uma vez cicatrizado o corte, a marca torna-se indelével."

"Maloá tem na boca o inseparável cachimbo - walikokó, pende-lhe do lábio inferior o adohó de madeira, muito leve e no pescoço ostenta o colar de missangas de várias voltas, enfeite muito apreciado por todos os índios." ENCANTOS DO OESTE 1944, pg 154
Também para furar o lábio inferior, de onde pende o botoque de madeira, denominado odohó, chamam os pais um especialista, que usa como furador um pedaço de osso de bugio (azõdí). O orifício é feito entre os 6 e 7 anos, somente em meninos. Os desenhos que vão das orelhas aos cantos da bôca, não são definitivos, constituindo simples embelezamento para recepção e festas, pintados com tinta do urucum e do jenipapo." ENCANTOS DO OESTE pg 155.
Os Karajá são populações que vivem nas margens do rio Araguaia, abrangendo os estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso.
"Sistematicamente banida de nossa investigação artística, a cultura mais autêntica e viva da região recolheu-se para os arquivos etnográficos. O que era para ser esteio, viga mestra e estrada luminosa tornou-se curiosidade e folclore para especialistas. Poucos foram os que vislumbraram esse universo." Amazônia Indígena de Márcio Souza, capítulo 2: O impacto colonial na Amazônia. Pg 83.























Bom dia Fernando. Sou pesquisador do Museu Goeldi estou escrevendo um livro sobre o tabaco na Amazônia. Gostaria de saber duas coisas. Se as fotos mais abaixo, meio amareladas são autênticas? 2. Gostaria de usar uma delas no livro logicamente dando os créditos so seu pai, voce e o site. Agradeço antecipadamente qualquer contribuição que você possa dar!